serrote 34
A nova edição da revista de ensaios do IMS apresenta textos de dois convidados do Festival Serrote 2020, o filósofo Jason Stanley e a jornalista Nikole Hannah-Jones.
Autor do livro Como funciona o fascismo e uma dos principais vozes no debate sobre a ascensão global da extrema-direita, Stanley analisa as estratégias dos novos líderes autoritários no ensaio “A política do amigo e do inimigo”, escrito especialmente para a serrote.
Repórter do New York Times especializada em questões raciais, Hannah-Jones expõe, em “As raízes negras da liberdade”, as inúmeras contribuições dos norte-americanos negros para a consolidação da democracia no país. O texto faz parte do 1619 Project, iniciativa do NYT coordenada por ela que debate os legados da escravidão e o racismo estrutural nos EUA.
Ainda na serrote 34: Rodrigo Nunes investiga a ideia de “polarização” na política brasileira; Anne Carson busca na Grécia Antiga as origens do silenciamento de vozes femininas; Tiago Ferro lê um romance de Chico Buarque à luz do Brasil de 2020; Javier Marías discute como contar uma história; Maria Esther Maciel abre seu dicionário de Marias; e muito mais.
Confira abaixo o sumário e a carta do editor da serrote 34.
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Intelectual que merece esse nome é do contra. Seu compromisso deve ser com a inquietação, jamais com o apaziguamento. Onde se quer consenso, ela ou ele provocam desacordo. Apontam, sempre, a aberração na normalidade, a construção do que se quer natural.
Nikole Hannah-Jones e Jason Stanley são americanos e têm muito o que dizer ao Brasil pelos temas que tratam – racismo e fascismo – e também, ou sobretudo, pela coragem de se posicionar sem rodeios no debate público.
Jornalista experiente, Hannah-Jones concebeu e editou o especial Projeto 1619, que reuniu na revista do New York Times acadêmicos e escritores afro-americanos para marcar os 400 anos do início da escravidão no país.
Ela demonstra por que, mais do que os chamados Pais Fundadores da nação, anônimos cidadãos negros, por muito tempo vilipendiados e perseguidos, deram e dão a real sustentação para a democracia americana, contaminada em seu nascimento por ideias escravocratas e pela defesa de privilégios.
Professor de Yale, Jason Stanley pesquisa propaganda política. E não tem dúvidas de que o governo de Donald Trump replica, no seio de um regime democrático, métodos e valores do fascismo. Aliando argumentação sofisticada e contundência política, Stanley faz lembrar aos leitores brasileiros as coincidências entre Trump e o momento que vivemos.
Igualmente livre de amarras corporativas e de compromissos com a mediocridade, que têm sido a tônica no debate brasileiro, Rodrigo Nunes faz para a serrote um lúcido diagnóstico do clichê mais repetido para descrever o Brasil de hoje: a polarização. Num país que se deslocou para a extrema direita, a prudência manda que não se qualifique qualquer reação contundente a esse movimento como uma radicalização no sentido oposto – todo lado, lembra ele, tem dois lados.
O intelectual, como eu dizia, é aquele que faz da dissonância régua e compasso de sua atividade. (Paulo Roberto Pires)
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HISTÓRIA
Nikole Hannah-Jones / Robert Colescott
Sem os esforços idealistas, incansáveis e patrióticos dos norte-americanos negros, a democracia dos EUA seria bem diferente – e talvez nem fosse uma democracia
FASCISMO
Jason Stanley / Tomi Ungerer
A política do amigo e do inimigo
O contexto histórico é insuficiente para explicar o fascismo, que manipula democracias apoiado numa estrutura de conflito permanente
POLÍTICA
Rodrigo Nunes / Rodrigo Bivar
Sobre a ideia de “polarização”
CLÁSSICO
Robert Louis Stevenson / José Damasceno
Uma apologia dos ociosos
A devoção perpétua ao que um homem chama de trabalho serve apenas para nutrir a perpétua ignorância de muitas outras coisas
LITERATURA
Elizabeth Hardwick / Irma Blank
Memórias, conversas e diários
O registro de momentos íntimos de grandes escritores é um tipo de escrita ambígua e quase inimaginável numa cultura ciosa da modéstia e da discrição
ENSAIO VISUAL
Regina Parra
Bacante
ENSAIO
Anne Carson / Daniel Trench
O gênero do som
A definição de natureza humana preferida da cultura patriarcal baseia-se na articulação das vozes: mulheres são demoníacas e homens, justos a partir do que propagam
ARTE
Marguerite Yourcenar / Piranesi
O cérebro negro de Piranesi
Nas gravuras de Prisões imaginárias, o artista veneziano combinou embriaguez matemática e a angústia do espaço prisioneiro, num sonho de pedra que influenciou sucessivas gerações
VERBETES
Maria Esther Maciel / Veridiana Scarpelli
Brevíssima história natural das Marias
Em diferentes reinos, espécies e variações
LITERATURA
Javier Marías / Andrei Roiter
Sobre a dificuldade de contar
Só a literatura e seu descompromisso com o rigor dos fatos podem ser fiéis à verdade da linguagem, desde sempre condenada ao erro, à imprecisão e à insuficiência
SOCIEDADE
Tiago Ferro / Vanderlei Lopes
País esgotado ou o estorvo do futuro
Em seu primeiro romance, Chico Buarque antecipa a degradação social e política de um Brasil sem esperança
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