serrote 48
Nova edição traz as 3 ganhadoras do Concurso de Ensaísmo 2024, textos de Carlo Ginzburg e Bianca Tavolari e um diálogo entre James Baldwin e Nikki Giovanni inédito em português
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CARTA DO EDITOR
As perversas tecnologias da desigualdade brasileira, a brutalidade colonial e a tragédia climática têm desdobramentos e ressonâncias surpreendentes nos vencedores da sétima edição do Concurso de Ensaísmo serrote. Vacinados do imediatismo pela originalidade formal, os ensaios premiados são testemunhas surpreendentes de seu tempo.
Em “Políticas espaciais do afeto”, Tetê cruza arquitetura e vivência para implodir os muros – uns concretos, outros não – historicamente erguidos entre classes sociais, ideias e sexualidades.
A partir da trajetória de Tibira, a pessoa tupinambá executada por invasores no Maranhão do século 17, Camila de Caux faz de “Vestígios da natureza” uma reflexão contemporânea sobre a plasticidade de gêneros e identidades e as violências a que foram e são submetidos.
A Porto Alegre devastada pelas enchentes de 2024 se insinua de formas pouco óbvias em “Memorabília”, ensaio pessoal em que Maria Isabela Moraes se serve das convenções do diário na discussão de formas de pertencimento, solidariedade e solidão em face de eventos extremos.
Um longo e complexo diálogo entre James Baldwin e a poeta Nikki Giovanni encerra esta edição não apenas na celebração do centenário do autor de Da próxima vez, o fogo mas como lembrete, sempre útil, de que mais divergência e menos celebração fazem o debate público que assim merece ser chamado. (Paulo Roberto Pires)
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SUMÁRIO
CONCURSO SERROTE
Tetê / Álvaro de Lara
Políticas espaciais do afeto
Teorias da arquitetura quando em ruínas
Camila de Caux
Vestígios da natureza
Tupinambá do século 17, a pessoa conhecida como Tibira dramatiza em seu corpo supliciado a violência histórica das tecnologias de gênero
Maria Isabela Moraes / Nara Amelia Mello
Memorabília
Dias à deriva na Porto Alegre alagada
HISTÓRIA
Carlo Ginzburg / Pedro França
Fake News?
De ideólogos antissemitas a Mussolini, passando por Freud, a ‘profecia que se autorrealiza’ deixa marcas sutis na História
ENSAIO PESSOAL
Bianca Tavolari / Jorge Tacla
Santiago, 2023
Pelas ruas da capital chilena, o luto íntimo e o público ganham textura e concretude nos 50 anos do golpe que derrubou Salvador Allende
ENSAIO VISUAL
Solange Pessoa
Desenhos
GIM
James Brown
Feitiçaria líquida
Ao ser introduzido na Inglaterra dos séculos 18 e 19, o gim esteve no centro de uma cultura de delírio, loucura, alegria e morte
LITERATURA
Jorio Dauster / Loredano
O professor Nabokov
Em lendários cursos, o autor de Fogo pálido fazia da análise de clássicos o que chamava de ‘investigação detetivesca do mistério das estruturas literárias’
POLÍTICA
Moira Weigel / Regina Silveira
O algoritmo Adorno
Entre os Estudos sobre a personalidade autoritária e a Cambridge Analytica, o pensamento frankfurtiano ainda ajuda a compreender as novas encarnações do fascismo
DIREITOS CIVIS
Allan K. Pereira / Damon Davis
Ferguson, dez anos depois
As revoltas pela execução de Michael Brown inspiram as lutas contra o movimento global antinegritude
CENTENÁRIO
James Baldwin e Nikki Giovanni
Um diálogo
James Baldwin estava entre os mais combativos intelectuais públicos norte-americanos quando a poeta e ativista Nikki Giovanni, quase 20 anos mais jovem, o recebeu, em dezembro de 1971, nos estúdios de Soul!. O diálogo, publicado em livro dois anos mais tarde, é traduzido pela serrote, na íntegra e pela primeira vez em português, no centenário de nascimento de Baldwin