serrote 28

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A serrote 28, que chega às livrarias em março, apresenta um ensaio do filósofo francês Jacques Rancière sobre Guimarães Rosa e uma reflexão do escritor americano Jonathan Franzen sobre os dilemas do ensaísta em tempos sombrios. A revista traz um especial sobre os 50 anos dos levantes de 1968, com textos clássicos de Stephen Spender, sobre as revoltas de maio em Paris, e Joan Didion, sobre o movimento hippie na Califórnia.

Ainda na serrote 28, Claudia Rankine expõe a violência racista no cotidiano; Francesco Perrotta-Bosch critica a obra tardia de Oscar Niemeyer; Pedro Meira Monteiro analisa a relação dos artistas brasileiros com a precariedade social do país; e muito mais. Leia abaixo o editorial e o sumário desta edição.

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O tempo do ensaio, defende Jonathan Franzen em “Tarde demais para salvar o mundo?”, é o momento em que se torna impossível, para quem escreve, deixar de se posicionar. É tempo de decantar ponto de vista de opinionismo, intervenção de “postagem”, aforisma de tweet.

O ensaísta nasce, portanto, quando morre a tolerância do intelectual à opressão ou ao conforto dos lugares-comuns. Não é por outro motivo que Claudia Rankine inventa narrativas singulares para discutir o racismo, ou Francesco Perrotta-Bosch aponta os pontos cegos na unanimidade Oscar Niemeyer.

A narrativa naturalizada sobre o Brasil sofre aqui outras fissuras sob os olhares estrangeiros de Élisabeth Roudinesco e Jacques Rancière, ela num balanço afetivo da psicanálise por estas latitudes, ele na leitura revigorante de João Guimarães Rosa.

Se, a acreditar em Germán Arciniegas, a revolução é o ensaio em ação, os 50 anos de Maio de 68 lembram os limites e o vigor da sublevação nos clássicos “Arrastando-se para Belém”, em que Joan Didion flagra a desorientação lisérgica dos hippies, e “Paris na primavera”, testemunho de Stephen Spender do momento mais decisivo das barricadas.

Nunca é demais lembrar, com Pedro Meira Monteiro em “A gambiarra como destino”, que, na terra arrasada do Brasil de 2018, insurreição e criatividade renascerão cada vez que se trocar isenção por comprometimento, idealização por ação. É imperativo botar a mão na massa, muitas vezes abjeta, que ameaça nos soterrar. (Paulo Roberto Pires)

*

ARQUITETURA
Francesco Perrotta-Bosch / Eduardo Kobra
Niemeyer, de santo a milagreiro
As virtudes superlativas do mais célebre arquiteto brasileiro repetem-se como paródia quando ele mesmo decide servir à monumentalidade de qualquer poder

LEVANTES
Joan Didion / Victor Moscoso
Arrastando-se para Belém

Stephen Spender / ateliês populares
Paris na primavera literatura
Entre o psicodelismo da Califórnia e as barricadas que se tornaram símbolo dos movimentos libertários de maio de 1968, Joan Didion e Stephen Spender produziram dois formidáveis testemunhos de um mundo que ainda acreditava em revoluções.

LITERATURA
Jacques Rancière / Maureen Bisilliat
O desmedido momento
Em Primeiras estórias, Guimarães Rosa mostra que nas vidas em que nada acontece abre-se o espaço da ficção, o lugar sem história onde histórias podem acontecer

NARRATIVA
Claudia Rankine
Cidadã
A invisibilidade na escola, o temor mal disfarçado do estranho, a gentil hostilidade do vizinho, a desconfiança no caixa do supermercado, a ofensa aberta no café: são infinitas as formas da violência racista

ENSAIO VISUAL
Ivan Chermayeff
Colagens

ENSAÍSMO
Jonathan Franzen / Gary Hume
Tarde demais para salvar o mundo?
As causas que realmente valem a pena, da preservação dos pássaros à resistência ao governo Trump, empurram o escritor para o papel do ensaísta, uma espécie de bombeiro que corre em direção às chamas da vergonha enquanto todos tentam escapar delas

LITERATURA
Ricardo Piglia / Harold Fisk
Faulkner, profeta do passado
O autor de O som e a fúria faz de sua obra um réquiem para as lendas do sul dos Estados Unidos; ele não inventa histórias, as reconstrói como um arqueólogo de sua herança mítica

IDEIAS
Élisabeth Roudinesco / Daniel Trench
Cidades da psicanálise
Entre a Europa e a América Latina, a paixão freudiana reinventou-se de diversas formas. Neste mapa afetivo da psicanálise, uma de suas mais importantes historiadoras lembra Lou Salomé e o brasileiro Durval Marcondes nos diálogos pioneiros estabelecidos com Freud e, também, as transformações peculiares que suas ideias e práticas sofreram entre Buenos Aires e as cidades brasileiras.

ESTÉTICA
Boris Groys / David Shrigley
A verdade da arte
É ao agir sobre o mundo que o artista imprime à obra sua expressão verdadeira, seja pela captura da imaginação, seja na produção de coisas

SOCIEDADE
Pedro Meira Monteiro /Cao Guimarães
A gambiarra como destino
A precariedade estrutural do Brasil é freio e motor para artistas que, de Hélio Oiticica a Daniela Thomas, partem menos da idealização do que de uma matéria caótica atravessada por acertos de conta e convulsionada pelos mais diversos agentes políticos

4 respostas para serrote 28

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