serrote 42
Nova edição apresenta ganhadores do 5º Concurso de Ensaísmo e textos de Denise Ferreira da Silva, Mary Gaitskill, Teju Cole, Ricardo Piglia, Margo Glantz, Nadia Urbinati e Claudio Medeiros, entre outros
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CARTA DO EDITOR
Que o Brasil não é para principiantes já nos tinha advertido Antonio Carlos Jobim. O que não deixa de espantar é a atualidade e o alcance da blague do maestro, que mirou nas mazelas do país e acertou em sua complexidade, como atestam os três primeiros lugares do Concurso de Ensaísmo serrote.
Ao perceber a recorrência do substantivo “sentada” e do verbo “sentar” nas músicas mais tocadas do último ano, Igor de Albuquerque trocou preconceito por curiosidade: nas letras de duplo sentido, identificou ecos de Aretino; do universo machista do agronejo, viu sair mulheres empoderadas.
Guilherme Moraes, segundo lugar no concurso, examina como o alardeado conformismo pátrio, que parece reforçado sob o governo da extrema direita, é cevado num caldo de religiosidade, consumismo e repressão.
Em 1979, em plena ditadura, a disposição era bem outra, lembra Guilherme Benzaquen, que no ensaio premiado em terceiro lugar rememora uma corajosa greve dos canavieiros para lembrar o valor, inestimável, da sublevação.
Se, como demonstra Nadia Urbinati em longa e esclarecedora análise, a democracia corre riscos em todo o mundo com a emergência dos populismos, Denise Ferreira da Silva e Claudio Medeiros examinam, por caminhos diferentes, como o debate sobre direitos civis e cidadania não pode prescindir de seu componente racial.
“O ensaio vibra com a tensão daquela luta entre pensamento e vida”, escreve Vilém Flusser. E os autores aqui reunidos só o confirmam neste outubro de 2022, mês e ano em que o Brasil renovou nas urnas seu compromisso com a liberdade e a cidadania. (Paulo Roberto Pires)
SUMÁRIO
CONCURSO SERROTE
Igor de Albuquerque
Modos de sentar
Entre Aretino e Luiza Sonza, dodecassílabos e agronejo, a dinâmica da sobreposição de corpos é eloquente sobre as formas de ser e estar no mundo
Guilherme Moraes / Kika Diniz
Esboço para uma teoria do conformismo
Religiosidade messiânica, mercadoria, violência e a produção de conformismo no Brasil
Guilherme Benzaquen / Jonathas de Andrade
Greve nos canaviais
Os relatos da paralisação de trabalhadores rurais pernambucanos em plena ditadura revelam a potência emancipatória da memória em todas as lutas
CRÍTICA
Vilém Flusser / Mauro Piva
Ensaios
A escolha entre fazer um tratado e um ensaio é uma decisão existencial
ESCRITA
Mary Gaitskill / Rommulo Vieira da Conceição
O desenraizamento da literatura
Perdemos a paixão pela boa escrita e pelo estilo, face visível de um trabalho íntimo e rigoroso de perscrutar o mundo
ARTE
Margo Glantz / Ishiuchi Miyako
Frida Kahlo, disseminação e ampliação
A artista mexicana viveu perplexa por não saber como enfrentar sua alteridade, olhando-se, retratando-se e oferecendo então sua efígie como o mais precioso de si mesma
ENSAIO VISUAL
Andréa Hygino
Prova de estado + Exercício da destreza
QUESTÕES RACIAIS
Claudio Medeiros / Laís Amaral
Vultos na mata
Um monumento às vidas que desapareceram sem rastros no pós-abolição deve ser pensado como a biografia coletiva de sucessivas diásporas
Denise Ferreira da Silva / Gustavo Nazareno
“Nem mesmo pela lei daqui”
Todo uso de violência simbólica ou total contra pessoas negras e latinas tem uma justificativa que ultrapassa os mecanismos modernos de justiça
ENSAIO
Teju Cole / Marcelo Macedo
Um quarteto para Edward Said
Música, política e viagem nos sinuosos movimentos para dar conta da complexidade irredutível do outro
LITERATURA
Ricardo Piglia / Ignasi Aballí
Cenas do romance argentino
As obras de Roberto Arlt e Rodolfo Walsh refletem as tensões entre jornalismo e literatura e o valor social e subjetivo da experiência
POLÍTICA
Nadia Urbinati / Arthur Arnold
Eu, o povo
O populismo do século 21 desafia a democracia a partir de seus princípios para remodelá-la em um regime político na tênue fronteira com o fascismo
Capa de Gustavo Nazareno
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