Carta do editor

Esta é a primeira das próximas 50 edições da serrote. A revista passa a ser publicada semestralmente, em diálogo mais estreito com um site renovado.  No papel, o leitor atento notará sutis mudanças gráficas. O que permanece é a inquietação em buscar vozes, pontos de vista e escritas pouco óbvios, como os contemplados entre os vencedores do oitavo Concurso de Ensaísmo serrote. ¶ A partir de vestígios da memória de Thais Diniz, Ava Cruz propõe o que chama de “rituais” para a criação de um arquivo travesti que dê conta de vidas sistematicamente apagadas da história. ¶ Em “Telefone sem fio”, Tom Nóbrega Silva parte da brincadeira infantil para refletir sobre a complexa experiência, individual e coletiva, do deficiente auditivo. ¶ Carolina Marcondes revela, na leitura dos diários da tia, a violência insidiosa que precede um feminicídio na São Paulo dos anos 1980. ¶ Um casal improvável formado por Clarice Lispector e Rubem Fonseca está, para Italo Moriconi, nas origens de trajetórias e bifurcações na prosa brasileira das últimas décadas, de Caio Fernando Abreu a Amara Moira. ¶ Esta edição traz ainda a abertura de Uma história natural do estúdio, série de conferências do artista sul-africano William Kentridge, e a perspicaz análise de Claudia Durastanti sobre a transformação do fascismo em entretenimento.

Paulo Roberto Pires