Carta do editor

Na imaginação prodigiosa de Veridiana Scarpelli, o serrote está em toda parte: na erupção de um vulcão e na prancha de surfe, na haste de cogumelos ou no contorno de uma falésia. Com essas metamorfoses do “instrumento hostil” a que se referiu Murilo Mendes, comemoramos as 50 edições de uma revista que insiste no ensaio e reafirma o compromisso do gênero com a liberdade de temas e formas. ¶  A escrita celeste de Anne Carson está aqui em diálogo com a reflexão ancestral de Ailton Krenak sobre o meio ambiente e os comentários de Judith Butler relacionando democracia e o futuro das humanidades. Fábio Zuker mapeia o avanço do carbofascismo no Brasil e no mundo, Luiz Antonio Simas revisita João do Rio à luz das culturas de diáspora e, num clássico da crítica literária, Hugh Kenner faz uma leitura minuciosa do universo de Samuel Beckett. ¶  Livre da pretensão à perenidade do livro e da ânsia de capturar o presente, própria do jornalismo, a serrote segue determinada a abrir cabeças – na celebração do que fica e na aposta em futuros possíveis.

Paulo Roberto Pires