serrote 47
Nova edição traz ensaios da autora palestina Adania Shibli e do historiador argentino Federico Finchelstein escritos especialmente para a revista, além de textos de Martín Kohan, Silviano Santiago, Namwali Serpell e muito mais
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CARTA DO EDITOR
Adania Shibli é autora de um romance extraordinário, Detalhe menor. Em 2023, foi contemplada com um importante prêmio literário da Alemanha, mas terminou por não o receber. No rasto da guerra entre o grupo terrorista Hamas e a extrema direita israelense, a premiação foi cancelada. Na imprensa alemã, alegava-se que o livro, de 2017, poderia estimular o antissemitismo.
Shibli nasceu na Palestina, divide seu tempo entre Jerusalém e Berlim e, a convite da serrote, parte da vivência cotidiana para refletir sobre as formas de silenciamento, inseparáveis de sua biografia e da história de seu povo.
É também na fronteira entre o pessoal e o coletivo que Federico Finchelstein, argentino radicado nos Estados Unidos, volta a Buenos Aires pela primeira vez desde a vitória de Javier Milei, a quem define como “aspirante a fascista”. A menos de dez metros do presidente, que discursava, o autor de Uma breve história das mentiras fascistas escreve, com exclusividade para a revista, a partir desse momento: “Nem sempre nós, historiadores, temos a possibilidade de observar de perto nosso objeto de estudo”.
Se uma revista é, como queria Simone Weil, um “círculo de afinidades”, reafirmemos nesta edição nosso compromisso com a liberdade e a democracia, uma e outra sob ameaças cada vez mais concretas em todas as latitudes. (Paulo Roberto Pires)
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SUMÁRIO
PALESTINA
Adania Shibli / Taysir Batniji
A traição da língua
Recorrer ao silêncio sob domínio colonial ou no exílio pode ser uma decisão consciente de não travar diálogo com a lógica distorcida do colonizador ou do dominante
FASCISMO
Federico Finchelstein / Florencia Bothling
O aspirante da vez
À imagem de Trump e Bolsonaro, Javier Milei encarna a versão incompleta do fascista, que ataca a democracia sem compromisso ideológico de longo prazo
ALÔ?
Martín Kohan
Um réquiem para o telefone
Já quase ninguém usa o telefone como telefone, mas ele continua a ser chamado assim
MEMÓRIAS
Fernanda Melchor / Marina Rheingantz
Confusão de línguas
Eu falava na língua da ternura, da fantasia lúdica, e ele na língua da paixão, de avidez e desejo, de raiva e angústia, presentes no beijo aterrorizante que me deu
CONCURSO SERROTE
Ingá Maria Patriota
Abrir a porta
Numa ocupação do MTST, a experiência de um filme coletivo convoca as mulheres ao engajamento pela troca de vivências
ENSAIO VISUAL
Silvana Marcelina
sudestina.
ENSAIO PESSOAL
Maria Carolina Fenati
Nadar
Atravessar águas e páginas, escutando o fundo e a superfície, é inventar maneiras de grafar palavras que flutuam
RACISMO
Yasmin Santos / Mulambö
Com as próprias mãos
A execução de Cara de Cavalo, imortalizada por Hélio Oiticica há seis décadas, é marco histórico no extermínio da população negra e pobre pelo Estado
ALFABETO SERROTE
Evandro Cruz Silva
R de resistência
LITERATURA
Namwali Serpell / Natali Tubenchlak
Me bate, meu bem
Na ficção do ‘mestre remasterizado’, mulheres jovens derrotam homens mais velhos e poderosos para se vingar da narrativa formal e senhorial que chamamos de romance
CONCURSO SERROTE
Rogerio Almeida / Eder Oliveira
Encruzas amazônicas
Inferno e paraíso, almoxarifado de recursos, palco de violência e de tradições imemoriais, a Amazônia resiste em sua complexidade
ENSAIO
Silviano Santiago
O grande relógio
Machado e Proust e a hora em que o mundo recomeça
CAPA: Taysir Batniji