serrote 45

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Nova edição traz textos de ganhadoras do Concurso de Ensaísmo serrote e ensaios de Silviano Santiago, Aparecida Vilaça, Zora Neale Hurston e Jacqueline Rose. entre outros

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CARTA DO EDITOR

A insurgência contra normatividades de classe, gênero e raça pontua os três vencedores do Concurso de Ensaísmo serrote em sua sexta edição. O que os torna notáveis é menos a afinação com temas decisivos, que de fato têm, do que as estratégias e formas pelas quais os enfrentam.

Ruth Middleton, uma mulher escravizada nos EUA do século 19, dialoga com Carolina Maria de Jesus e a poeta Lívia Natália graças à perspicácia de Fernanda Silva e Sousa, que em “Dos pés escuros que são amados” une contundência e delicadeza ao flagrar, com entonação literária, gestos de amor que permitem reconstituir a experiência de vítimas do racismo ao fio de três séculos.

A memória familiar de Thaís Regina articula jornalismo de alta qualidade e ensaio pessoal ao rever em “Severinos, o Brasil é uma guerra nossa” a trajetória do avô, presidiário por mais de duas décadas, que encarna o destino de toda uma população negra subjugada por um Estado racista e demofóbico em sua essência.

O corpo não binário e seu complexo diálogo com a sociedade ganha análise surpreendente por Padmateo, que em “Pepper’s Ghost” convoca Monga, a mulher gorila, Kafka e Paul Preciado para discutir as imagens possíveis de pessoas em transição.

A certidão de óbito de Machado de Assis lida por Silviano Santiago e a história de como um rio ganha estatuto jurídico de ser vivo, narrada por Aparecida Vilaça, lembram ainda, por diferentes caminhos, que a luta contra o conformismo, teórico ou político, deve ser incessante no rescaldo da mais recente voga autoritária que varreu o Brasil. (Paulo Roberto Pires)

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SUMÁRIO

CONCURSO SERROTE
Fernanda Silva e Sousa / Sônia Gomes
Dos pés escuros que são amados
Na delicadeza de um bordado ou na contundência da escrita se constituem os arquivos pulsantes da experiência negra

Thaís Regina / Edu Silva
Severinos, o Brasil é uma guerra nossa
A experiência de meu avô na prisão mostra que é possível emergir da dor num país que faz do sofrimento o padrão de vida de parte de sua população

Padmateo / Laura Anderson Barbata
Pepper’s Ghost
O truque de reflexos por trás de Monga, a mulher gorila, cria imagens borradas que são a representação possível de corpos em transição

CLÁSSICO
Zora Neale Hurston / Helô Sanvoy
O que os editores brancos não publicam
A literatura negra existe por razões para além dos propósitos raciais

CRÍTICA
Silviano Santiago
Confisco do cadáver de Machado de Assis pelos monarquistas
A escrita necrológica e os necrólogos machadianos

FILOSOFIA
Jacqueline Rose / Thomas Hirschhorn
Simone Weil e os limites da justiça
Implacável no diagnóstico do seu tempo, a filósofa se debateu até o fim com a questão de como se manter a serviço de um mundo mais igualitário

ENSAIO VISUAL
Wanda Pimentel
Caminho ao elo sobre-humano

SOCIEDADE
Victor Calcagno / Cynthia Gyuru
A machosfera contra as balzacas
A “mulher de 30”, tipo mais popular da Comédia humana, catalisa o ódio e a misoginia dos homens no submundo da internet

ANTROPOLOGIA
Aparecida Vilaça / Aislan Pankararu
Fala, rio Laje
A disputa ambiental brasileira incorpora a voz de um rio, que graças a vereador indígena passa a ter inédito estatuto jurídico de ser vivo

IDENTIDADE
Márcio Brito / Zózimo Bulbul
Cinema e kilombo ou Como os pretos avoam
O ingresso de pretos, pretas e pretes no cinema e nas academias de ensino superior me dá esperanças, mas não ilusões.

FOFOCA E LITERATURA
Edgardo Cozarinsky / Guga Szabzon
O relato indefensável
Na forma como circula e se modifica, a fofoca reproduz o movimento geral da história e do conhecimento humano

ENSAIO
Moyra Davey
Queimar os diários
Amontoar pilhas de diários sobre a mesa: o peso existencial de anos de acumulação

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