serrote 37
Na serrote 37, o cartunista Claudius Ceccon publica pela primeira vez três desenhos feitos na prisão durante a ditadura. O ganhador do Nobel J. M. Coetzee reflete sobre o impacto da censura no trabalho dos escritores. A historiadora Wlamyra Albuquerque e o sociólogo Serge Katembera discutem o racismo e o identitarismo.
A revista traz também ensaios sobre o impacto da pandemia de gripe de 1918 nas obras de Freud e Mário de Andrade. E ainda: Leslie Jamison, Valeria Luiselli, Enzo Traverso, os textos que receberam menção honrosa no 3 Concurso de Ensaísmo serrote, e muito mais.
Compre a serrote 37 na Loja do IMS
*
CARTA DO EDITOR
No Brasil de 2021, tenta-se reescrever o passado para acomodá-lo à ideia de país racista, violento e desigual que se gostaria de perpetuar. Para a frustração de fascistas de ontem e de hoje, a mentira muitas vezes repetida não se torna verdade, mas evidência de barbárie, prova que incrimina seus perpetradores.
É à base de expurgos e falseamentos que se constrói uma sociedade branca, autoritária e excludente, mostra Wlamyra Albuquerque no ensaio que abre esta edição, precedendo a memória nítida de dois momentos de horror: a censura do apartheid sul-africano por J. M. Coetzee e a truculência da ditadura brasileira, reencontrada por Claudius Ceccon nos desenhos em que documentou sua passagem pela prisão.
A força avassaladora da História se faz ainda presente nas reflexões de Jacqueline Rose e Susanne Klengel, que se ocupam dos efeitos da gripe espanhola sobre a vida e a obra de Sigmund Freud e Mário de Andrade.
A pandemia de 1918 reverbera na de 2020 como uma advertência de que o negacionismo, essa modalidade sistematizada e criminosa da mentira, costuma redundar na derrocada de seus formuladores – todos eles diretamente responsáveis, entre nós, pelos mais de 200 mil mortos em consequência da covid-19. (Paulo Roberto Pires)
*
SUMÁRIO
POLÍTICA
Wlamyra Albuquerque
As impossíveis brancas nuvens do racismo
A invasão do Capitólio e o expurgo da Fundação Palmares mostram vínculos históricos profundos na defesa do privilégio branco
AUTORITARISMO
J. M. Coetzee / Carlos Zilio
A marca da censura
Ao perseguir o escritor, o Estado altera para sempre a dinâmica de sua criação. E também lhe confere força e importância
Claudius Ceccon
A ditadura reencontrada
Dados como perdidos por décadas, desenhos de uma passagem pela prisão evocam a truculência que ainda assombra o Brasil
MEMÓRIA
Leslie Jamison / Edu Marin
Entre o belo e o banal
Filmes caseiros, protagonizados por gente comum em situações cotidianas, relativizam a experiência estética e redefinem o sentido da vida
DOCUMENTO
Valeria Luiselli / Dorothea Lange
As coisas como elas são
Ao buscar no factual a universalidade, Dorothea Lange criou um vasto arquivo das crises dos EUA ao longo do século 20
IDENTITARISMO
Serge Katembera / Leandro Júnior
Contra o racismo, a identidade reafirmada
Do #BlackLivesMatter à morte de João Alberto, a mobilização das redes mostra identitarismo como fator concreto de união e força
ENSAIO VISUAL
Pinky Wainer
Pequena biblioteca de livros lidos
PANDEMIAS
Jacqueline Rose / Danilo Oliveira
Morrer a própria morte
Enlutado pela perda da filha preferida, vítima da gripe espanhola, Freud reformulou a teoria da pulsão de morte, numa reflexão que ajuda a pensar o mundo sob a pandemia de covid-19
Susanne Klengel
Vanguarda pandêmica
Em Pauliceia desvairada, Mário de Andrade reelabora com sutileza e sofisticação poética as marcas da gripe espanhola na São Paulo dos anos 1920
CONCURSO SERROTE
Bernardo Brayner
Perec e eu
Como num parque de diversões do interior, um jogo de espelhos, um Odradek enganoso, Monga, a mulher-gorila, Chang e Eng
Maíra Vieira de Paula / Rosana Paulino
Um antimonumento às Bandeiras
Ainda a lamentar, de Rosana Paulino, subverte a grandiloquência e a celebração da barbárie encarnadas pela obra com que Brecheret exaltou a identidade paulista
ALFABETO SERROTE
Enzo Traverso
R de revisionismo
CLÁSSICO
Oliver Goldsmith / Liliana Porter
Sobre os preconceitos de nacionalidade
Estão mais inclinados a se vangloriar do mérito nacional aqueles que têm pouco ou nenhum mérito próprio
LITERATURA
Diego Viana / Francisco Acquarone
A síndrome de Mariz
O fidalgo de O Guarani é o paradigma involuntário do homem branco brasileiro, que vive como ameaça permanente em um país que insiste em dominar e explorar
Pingback: PRODUÇÃO LITERÁRIA | Paulo Raviere