Links da quarentena: o diário de Almodóvar e a pandemia dos filósofos

Links da quarentena: o diário de Almodóvar e a pandemia dos filósofos

Toda sexta-feira, a serrote indica textos sobre a pandemia publicados ao longo da semana no Brasil e no mundo. Nesta edição, confira o diário do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, que cumpre quarentena em Madri, artigos de filósofos como Bruno Latour, José Gil e Paul B. Preciado, e muito mais. 

Esta seção é parte da série #IMSquarentena, com ensaios do acervo, colaborações inéditas e uma seleção de textos que ajudem a refletir sobre o mundo em tempos de pandemia. 

O cineasta Pedro Almodóvar

“A situação para mim não é tão diferente do normal, acostumado que estou a viver sozinho e em estado semi-alerta”, escreve Pedro Almodóvar num diário de quarentena. Sean Connery, Chavela Vargas e Pina Bausch frequentam suas memórias entre caminhadas dentro do apartamento em Madri e anotações para filmes a serem feitos.

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Bruno Latour, antropólogo e filósofo da ciência, vê na pandemia uma oportunidade de rever prioridades e reorganizar o ativismo. “Se tudo para, tudo pode ser recolocado em questão, infletido, selecionado, triado, interrompido de vez ou, pelo contrário, acelerado”, escreve ele em “Imaginar gestos que barrem o retorno da produção pré-crise”, publicado pela editora n-1 em português e disponível, no original, no site do autor.

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Em “O medo”, ensaio veiculado no jornal Público, o filósofo português José Gil lembra que o coronavírus expõe a precariedade dos mecanismos que existem para, teoricamente, nos proteger e nos proporcionar uma vida melhor. “Não se trata, como já ouvimos dizer, de pôr em causa a nossa civilização, mas as suas formações de poder e, com elas, o desenvolvimento de laços sociais cada vez menos aceitáveis”, escreve.

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No dia 11 de março, Paul B. Preciado caiu doente, sozinho, num apartamento em Paris. “Assim que saí do leito, no dia 19, pouco mais de uma semana depois, o mundo tinha mudado”, conta ele em “A conjuração dos losers”, uma reflexão irônica sobre o efeito do vírus entre casais e solteiros. Em “Aprendendo do vírus”, um outro ensaio, este de alta densidade filosófica, o filósofo queer relaciona o debate sobre a pandemia com o conceito de biopolítica, desenvolvido por Michel Foucault nos anos 1970.

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Pelo menos dois livros foram produzidos em tempo recorde para tentar mapear a reflexão nas redes. Em Coronavírus e a luta de classes, a editora brasileira Terra sem Amos reúne Slavoj Zizek, David Harvey e Alain Badiou, entre outros, numa edição em PDF que pode ser baixada gratuitamente. Mais completo, e também gratuito, é Sopa de Wuhan – Pensamiento contemporaneo em tiempos de pandemia, que sumariza, em espanhol, textos aqui citados e algumas das principais discussões das semanas recentes, incluindo a troca de ensaios entre Giorgio Agamben e Jean-Luc Nancy. A editora n-1 vem concentrando em uma página estes e outros ensaios sobre o tema.

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