Links da quarentena: A Índia por Arundhati Roy e um relato de Paul Auster
Toda sexta-feira, a serrote indica textos sobre a pandemia publicados ao longo da semana no Brasil e no mundo. Nesta edição, Arundhati Roy expõe a face sombria da Índia em quarentena e Edmund White compara a epidemia de aids nos anos 1980 com a crise atual. E ainda: relatos do casal de escritores Paul Auster e Siri Hustved, que se recuperam de sintomas da covid-19, e muito mais.
Esta seção é parte da série #IMSquarentena, com ensaios do acervo, colaborações inéditas e uma seleção de textos que ajudem a refletir sobre o mundo em tempos de pandemia.
Desde 24 de março, a Índia realiza a maior quarentena do planeta, com 1,3 bilhão de habitantes sob ordens de ficar em casa para evitar que a pandemia se alastre. Nesse momento de crise, o país se revelou ao mundo “em toda sua vergonha”, diz a escritora indiana Arundhati Roy, com profunda desigualdade social e crescente perseguição à minoria muçulmana por nacionalistas hindus. Neste ensaio, ela pede que a quarentena seja encarada pelos indianos como uma oportunidade de deixar para trás “nossos preconceitos e ódios, nossa avareza, nossas ideias ultrapassadas”.
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Siri Hustvedt e o marido, Paul Auster, estão em isolamento em sua casa no Brooklyn desde o dia 11 de abril. Apesar de não terem sido testados, tudo indica que contraíram, ainda que de forma branda, a covid-19. “A cidade de que me lembro desapareceu”, escreve ela no El País sobre o cotidiano dos nova-iorquinos, reservando palavras fortes para Trump e Bolsonaro: “que morram”. Do retiro, Auster publica um relato que bota em questão os limites entre o vivido e o inventado a partir de uma viagem, em 2017, a Ivano-Frankivsk, cidade da Ucrânia onde nasceu seu avô.
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Aos 75 anos, a crítica argentina Beatriz Sarlo está de quarentena em sua casa, em Buenos Aires, mas não se rende ao medo. “Anos de experiência psicanalítica me ensinam que não se pode dizer: ‘vou sair da paranoia’”, diz nesta entrevista: “Mas podemos encontrar caminhos pra conviver com esses estados de espírito que talvez sejam inevitáveis”. Para Sarlo, esses caminhos incluem implicar com quem indica pela milésima vez a leitura de A peste (ela contra-ataca sugerindo Malone morre, de Beckett), ver o filme “A morte de Luis XIV”, do cineasta espanhol Albert Serra, e acenar pra crianças no prédio vizinho.
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Montaigne, como se sabe, retirou-se numa torre em seu castelo para escrever, no século 16, os Ensaios, livro que acabou batizando o gênero de eleição da serrote. Três séculos mais tarde, o ensaísmo teria um de seus expoentes no americano Henry David Thoreau, que produz uma de suas obras mais importantes, Walden, vivendo sozinho numa cabana às margens do lago que dá título à obra. Na Paris Review e no Washington Post, Drew Bratcher e Ron Charles fazem as conexões entre solidão, escrita e autoconhecimento em duas excelentes provocações de leitura para nossos confinados dias.
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O escritor americano Edmund White contraiu o vírus HIV nos anos 1980, mas sobreviveu à epidemia que matou muitos de seus amigos. Agora, aos 80 anos, ele teme ser atingido pela covid-19. Neste artigo, ele relembra uma conversa com Michel Foucault em Paris, pouco antes de o filósofo morrer em decorrência da aids. E compara esses dois momentos, dizendo que o medo, a desinformação e a intolerância que cercavam o HIV ganham nova dimensão com o coronavírus, “a primeira pandemia na era das mídias sociais”.
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