serrote 24
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A revista serrote 24 chega às livrarias com ensaios que refletem sobre a história do pensamento reacionário, as ondas feministas e as novas formas de ativismo político, entre outros temas. Leia abaixo o editorial desta edição, acompanhado pelo sumário.
Se o poeta é a antena da raça, o ensaísta é seu radar. Livre, assim, da pretensão de captar e decodificar essências, resta-lhe disposição para detectar os movimentos sutis de seu tempo – e até mesmo para além dele.
Premido pela montante conservadora que engolfou os eua nos anos 1980, Albert O. Hirschman pôde enxergar melhor o presente imediato com as lentes da memória, investigando como, na história, os reacionários ganharam voz própria. Para seus contemporâneos, Hirschman foi radar; para nós, premonitório no ensaio que abre esta edição falando diretamente ao Brasil de 2016, acelerado em sua marcha para o passado.
Rodrigo Nunes, por sua vez, consegue identificar o funcionamento do movimento em direção contrária, mapeando os caminhos surpreendentes da contestação contemporânea, da insurreição possível e necessária.
Trata-se de um amplo espectro de resistência que está nos feminismos analisados por Carla Rodrigues, no complexo jogo da identidade trans dissecado por Jacqueline Rose ou no sensível ensaio pessoal em que Djaimilia Pereira de Almeida lê o racismo e o sexismo nas volutas do próprio cabelo.
Entre ação e reação, José Luiz Passos encontra em Tolstói, Graciliano e José Lins do Rego uma hipótese para o impasse em que vivemos. Rompeu-se, acredita ele, o “pacto entre desiguais”, tão claro na relação entre cães e humanos, acordo tácito, silencioso e solidário, substituído pela algaravia de radicalismos que nos abandona a todos à própria sorte.
Entre a alta aspiração da antena e a atenção do radar, pode-se, quem sabe, delimitar um território crítico em que a recusa do panfleto vai de par com a disposição de não se conformar às platitudes, sejam elas da revolta ou do conformismo. (Paulo Roberto Pires)
AÇÃO E REAÇÃO
Albert O. Hirschman / Daniel Trench
Duzentos anos de retórica reacionária
Os ataques às conquistas sociais remontam à Revolução Francesa e à tese do “efeito perverso”, que pretende atribuir a todo avanço um retrocesso
Rodrigo Nunes / Rirkrit Tiravanija
Anônimo, vanguarda, imperceptível
A crise da democracia e da representação impulsiona o ativismo de código aberto, que prescinde de lideranças explicitamente identificadas ou estruturadas
IDENTIDADES
Carla Rodrigues / Sandra Cinto
Erguer, acumular, quebrar, varrer, erguer…
Na quarta onda do feminismo, surfam jovens, negras, mulheres trans, lésbicas, prostitutas, intelectuais etc. – principalmente etc.
Jacqueline Rose / Craig Calderwood
Quem você pensa que é?
Longe de ser aberto a todas as possibilidades, o mundo trans é pura divergência entre a conquista de uma nova identidade ou o embaralhamento voluntário de todas as categorias sexuais
ENSAIO PESSOAL
Djaimilia Pereira de Almeida / Lorna Simpson
Esse cabelo
A história do meu cabelo crespo intersecta a história de pelo menos dois países e da relação entre continentes: uma geopolítica
Felipe Charbel / Sammy Stein
O círculo e a linha
De um diário de releituras sobre a morte do pai
ALFABETO SERROTE
Alberto Martins
Litoral
Escarpa
Lago
LITERATURA
José Luiz Passos / Tatiana Blass
O estilo dos cães
A relação entre animais e homens revela em Machado, Tolstói e Graciliano o pacto entre desiguais – e, sobretudo, a sua traição
Joyce Carol Oates / Al Taylor
Inspiração e obsessão
A criação artística é menos um mistério do que o resultado da intensa e rigorosa negociação entre memória, experiência e forma
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